Na minha adolescência nos saudados anos 1980, era comum a gurizada usar o termo "provalecido", atribuído a quem se valia de uma condição de superioridade, em geral atribuída à força ou ao tamanho. Era aquilo do maior bater no menor. Estava sendo "provalecido".
Claro que usei esse termo dentro de casa e claro que fui imediatamente corrigido por minha mãe, purista da língua. E de fato ela estava certa: "provalecido" não existe no dicionário. O correto seria prevalecido, do verbo prevalecer, que segundo meu Aurélio: verbo intransitivo direto. Impor-se (ou superar), por valor, mérito, etc. Predominar. Verbo pronominal: valer-se, aproveitar-se.
Então: lá fui eu me defender com o vernáculo, na primeira ocasião em que a palavra foi atirada ao ar, no pátio do colégio. Prevalecido! A risada foi uníssona! Tentei explicar. Mais risadas.
De volta ao recreio, nada mais oportuno que a aula de Português. Seria se a professora fosse a Dona Irene. Não era, era a Carmen: "Professora, o Rodrigo disse que o certo é prevalecido". Não tive respaldo dela. Ela encontrou diferenças de sentido para ambas as palavras.
Não desisti: fui na aula com o dicionário. Mostrei o significado de "prevalecido", que era exatamente o empregado para o inexistente "provalecido". Sabe que mesmo assim não convenceu? Desisti, evidente, de convencer qualquer pessoa sobre o assunto.
Tantos não podiam estar errados, mas nem eu, que tinha o dicionário a meu favor, do qual me prevaleci para mostrar que tinha razão.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
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