quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Abu não dá bi

O sonho do bi colorado ruiu ontem. Desabou feito o World Trade Center, vítima de dois golpes. Mas, assim como no caso nos americanos, os colorados não são ingênuas vítimas.

O Internacional montou o circo, auxiliado pela imprensa sempre ávida por notícias e extremamente bairrista. Promoveram despedida hollywoodiana para os atletas, com exibição de filme da Libertadores no Beira-Rio e anunciado quebra de recorde de público numa sessão de cinema!

Os jogadores transformados um galãs de uma conquista inevitável. Afinal, o primeiro jogo SERIA contra o Pachuca, time mexicano que o próprio Inter já derrotara no passado. E depois, uma final apoteótica contra uma Internazionale em crise, com técnico pendendo perigosamente. Além disso, todas as coincidências evocadas em nome da verdade determinada: ano de Copa, jogador com inscrição indeferida, novato indo de última hora, técnico até então contestado. Era ir, ver e vencer!

Mas o César Colorado não vingou. A começar pelo adversário do primeiro jogo: não foi o anunciado Pachuca, mas sim o desconhecido Mazembe. Bem, o Inter é o único time brasileiro a ganhar títulos internacionais desde 2006 (para quem consegue achar algum relevo na Taça Suruga), portanto o Mazembe seria só um rito de passagem.

No entanto, era o momento de confirmar o pré-favoritismo, ou as mentiras escondidas apareceriam. Para começar, faz tempo que o Inter não tem esse time (ou grupo) todo que incensadamente dizem que tem. Os goleiros foram todos reprovados pela torcida. A zaga é a vontade de reviver 2006: uma zaga velha e lenta. O meio-campo tem como ícones dois argentinos: um da segunda linha do futebol mas guindado a condição de deus, que é o Guiñazu, e outro marrento que só joga quando quer (em geral Grenal).

E o resto seria Sóbis, também na tentativa desesperada de reviver 2006 e o contestadíssimo Alecsandro. NADA de excepcional nesses jogadores. Giuliano, eleito melhor jogador da Libertadores, apesar de ficar a maior parte do tempo no banco, não é reserva à toa: simplesmente porque não é tudo isso.

E, ao contrário do que tentou Roth já ao fim do jogo de ontem, não irá resolver TODOS os jogos no final, tal como foi com o Estudiantes, principalmente, em que salvou um Internacional nocauteado de parar ali mesmo.

Para terminar, o tal planejamento. Ouvia-se ontem no rádio os jornalistas perguntando que se o Inter havia planejado tudo tão corretamente, o que tinha dado errado? Ora, nem tão corretamente assim, a menos que alguém ache saudável parar de jogar competitivamente em agosto para só retornar em dezembro.

O Internacional deixou de jogar o Brasileirão (assim como Gauchão, em face da Libertadores) em nome de algo que tem por maior. E esse erro o próprio Grêmio cometeu em 1995. Ora, Brasileirão e Mundial Interclubes não são excludentes. O próprio Inter soube disso em 2006, sendo vice-campeão brasileiro - apesar de o Grêmio ter perdido a chance de ultrapassá-lo na última rodada ao ser derrotado para o então já rebaixado Fortaleza. Mas ainda assim teria sido terceiro. Inobstante, conquistou o Mundial.

O que me faz lembrar as duas maneiras em que o Inter saiu daqui e chegou na sede do Mundial em 2006 (como desafiante, pequeno diante do gigante Barcelona) e nesse ano (favoritíssimo).

Deu no que deu. E não por acaso: mau planejamento e time muito abaixo do propalado, as causas do verdadeiro fiasco.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Mais um rap do Silva

Em meio à rotina de estudos que me impus, valho-me de eventuais cervejas com os amigos para desopilar. Não sei ser de outro jeito.

Pois ontem - nessa madrugada, para falar a verdade - eu voltava para casa no pós-aula e pós-cervejada quando me deparei com uma cena sempre horrível, mas recorrente nas metrópoles: na Sertório, junto à ponte do Guaíba, o corpo de um jovem jazia no meio-fio. Junto dele, sentada no cordão da calçada, uma jovem chorava a fatalidade, e em volta alguns policiais diligenciavam a ocorrência. Curioso que não havia o ajuntamento característico, pois se localizava defronte à uma casa noturna, o que me fez concluir que o ocorrido era recentíssimo.

Não sou de parar para essas coisas, nada havia a fazer, senão passar com cautela. Percebi a marca de um tiro no corpo do rapaz, sangue: um retrato que impressiona.

Hoje pela manhã vi na internet que se tratou de um homicídio, o rapaz foi vítima de 19 disparos de arma de fogo - certamente, uma queima de arquivo.

A casa noturna em questão é característica por festas com jovens da periferia, funkeiros ao que parece. Entre realidade e muito preconceito que transita no entorno dessa questão, o fato é que usuários de drogas e traficantes não são incomuns nesse meio. Daí, não fica difícil tirar conclusões (aliás, conclusões apressadas são bem fáceis de ser tiradas sempre).

Meu lado humanitário se compadece do jovem morto, não sem aquele lado de se perguntar o que foi que ele fez para merecer o trágico desfecho: certamente mexeu com quem não devia, o que sempre nos passa aquela sensação de insegurança. Desde a lei do mais forte, a lei do melhor armado vem vigindo sem freios.

Existe uma música, cantada por "As Chicas" - grupo formado pelas filhas do Gonzaguinha - em que elas interpretam o "Rap do Silva". A letra é pungente e lembra a fatalidade de "Domingo no Parque", de Gilberto Gil: contra a trajetória irreversível de um pai de família que curte bailes funkeiros. O refrão define: "Era só mais um silva, que a estrela não guia. Ele era funkeiro, mas era pai de família".

E a música segue relatando todo seu roteiro, beijo nas crianças, na esposa, a felicidade no bonde, até descer em seu destino:

"Mas naquela triste esquina, um sujeito apareceu. Com a cara amarrada, sua alma era um breu. Carregava um ferro em uma de suas mãos, e apertou o gatilho sem dar qualquer explicação"

"Sua alma era um breu" traduz de forma genial o ânimo daquele que será o algoz desse infortunado Silva. E a frase definitiva, tal qual em Domingo no Parque ("Juliana, seu sonho, uma ilusão"): "E o pobre do nosso amigo, que foi no baile curitr, hoje com sua família não irá dormir".

A música retrata com perfeição as tragédias, nem sempre das periferias, nem sempre nos grandes centros urbanos. E é a descrição da cena que presenciei essa madrugada, mas sempre um aviso, a mão do destino repousando perigosamente sobre nossas cabeças.

Descansa em paz, Milton.

As Chicas cantam "Rap do Silva": http://www.youtube.com/watch?v=81hCBlxmN0Q

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