segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sobre duas pernas ou quatro rodas

Na adolescência, eu ouvia: "tem três coisas que se tu fizer não precisa mais me chamar de pai: comprar uma moto, fazer tatuagem e colocar brinco". Penso que não eram cumulativas, qualquer uma delas seria suficiente para que a "ameaça" se concretizasse - pelo menos uma seria o desgosto, duas uma grave tensão entre nós; as três, creio que eu mataria o velho.

Talvez um pouco por isso, nenhuma das três jamais me atraiu. Nada de preconceito em relação ao brinco, por exemplo - só continuo achando que cai tão bem em homem quanto gravata em mulher. Questão de gosto, portanto.

Já a tatuagem sempre tive por algo definitivo demais em minha vida. Nada pode ser tão permanente, senão a própria. E assinar sobre o próprio corpo? Lembro de uma vez na adolescência que um amigo, com o uso de uma lapiseira, cortou sobre as costas da mão o nome da namorada - era Daiane, ele aguentou só até o "Dai", mas estava mais para "dói". Evidentemente que o palhaço aqui também tentou, e nem seria o nome da namorada, que eu não tinha, nem da paixão avassaladora da época, e sim o meu próprio: não consegui terminar nem a cabeça do "R", marca que permanece no dorso da mão direita até hoje, 27 anos depois.

Finalmente, a moto: sou comodista demais para andar numa (para não dizer cagão). Lembro de alguns acidentes fatais e pá-pum, lá se vai qualquer pensamento nesse sentido. Há uns anos atrás, todavia, um amigo, quando eu morava em Ijuí, comprou uma moto antes mesmo de saber andar. Ele, eu e mais o saudoso Aranha - que depois faleceria num acidente, mas de carro, e como passageiro! - andamos à volta com a moto adquirida. Ousei dar umas bandas, ainda que breves, o suficiente para não acha-la tão perigosa numa rua calma do interior gaúcho. Mas qualquer cedência à ameaça paterna na adolescência se foi junto com a cerca que colhi dentro do pátio da casa desse amigo - realmente, as cervejas tomadas não autorizavam uma voltinha que fosse dentro do pátio - restou o susto, um joelho imediatamente inchado que felizmente desinchou na mesma velocidade - mas ficou a marca, tal qual a tentativa de mutilação aos 13 anos!

Tudo isso para ressaltar um fim-de-semana em que morreram sete motociclistas nas estradas gaúchas - essas coisas me impressionam sobremaneira, tal qual a jovem de 18 anos, a bordo de uma Byz, que bateu num caminhão e por ele foi atropelada bem aqui na minha frente, defronte à janela em que escrevo, há cerca de duas semanas atrás. Vi seu corpo sendo retirado do eixo do caminhão e acompanhei o noticiário que informou sua morte uma hora depois no HPS.

Um olhar atento, a voz na adolescência e saber que isso não é pra mim, as verdadeiras causas de eu me manter afastado das duas rodas. Prefiro andar sobre as quatro ou, ainda, se forem duas, que sejam minhas pernas!

Um comentário:

blog da Paraguassu disse...

O ser humano não foi feito para servir de pára-brisa.Punto e basta! O que observa-se no trânsito de hoje, é catastrófico. As motos bailam ao redor dos carros e em alta velocidade
na inobservancia do ditado que diz: perca-se um minuto na vida, mas não a vida num minuto. É trágico e doloroso ver jovens perderem a vida com tal brutalidade.
Continuamos com muitas saudades de vocês.
Bjs. e abrs. a todos,
Tasso e Maria.

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