quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Mais um rap do Silva

Em meio à rotina de estudos que me impus, valho-me de eventuais cervejas com os amigos para desopilar. Não sei ser de outro jeito.

Pois ontem - nessa madrugada, para falar a verdade - eu voltava para casa no pós-aula e pós-cervejada quando me deparei com uma cena sempre horrível, mas recorrente nas metrópoles: na Sertório, junto à ponte do Guaíba, o corpo de um jovem jazia no meio-fio. Junto dele, sentada no cordão da calçada, uma jovem chorava a fatalidade, e em volta alguns policiais diligenciavam a ocorrência. Curioso que não havia o ajuntamento característico, pois se localizava defronte à uma casa noturna, o que me fez concluir que o ocorrido era recentíssimo.

Não sou de parar para essas coisas, nada havia a fazer, senão passar com cautela. Percebi a marca de um tiro no corpo do rapaz, sangue: um retrato que impressiona.

Hoje pela manhã vi na internet que se tratou de um homicídio, o rapaz foi vítima de 19 disparos de arma de fogo - certamente, uma queima de arquivo.

A casa noturna em questão é característica por festas com jovens da periferia, funkeiros ao que parece. Entre realidade e muito preconceito que transita no entorno dessa questão, o fato é que usuários de drogas e traficantes não são incomuns nesse meio. Daí, não fica difícil tirar conclusões (aliás, conclusões apressadas são bem fáceis de ser tiradas sempre).

Meu lado humanitário se compadece do jovem morto, não sem aquele lado de se perguntar o que foi que ele fez para merecer o trágico desfecho: certamente mexeu com quem não devia, o que sempre nos passa aquela sensação de insegurança. Desde a lei do mais forte, a lei do melhor armado vem vigindo sem freios.

Existe uma música, cantada por "As Chicas" - grupo formado pelas filhas do Gonzaguinha - em que elas interpretam o "Rap do Silva". A letra é pungente e lembra a fatalidade de "Domingo no Parque", de Gilberto Gil: contra a trajetória irreversível de um pai de família que curte bailes funkeiros. O refrão define: "Era só mais um silva, que a estrela não guia. Ele era funkeiro, mas era pai de família".

E a música segue relatando todo seu roteiro, beijo nas crianças, na esposa, a felicidade no bonde, até descer em seu destino:

"Mas naquela triste esquina, um sujeito apareceu. Com a cara amarrada, sua alma era um breu. Carregava um ferro em uma de suas mãos, e apertou o gatilho sem dar qualquer explicação"

"Sua alma era um breu" traduz de forma genial o ânimo daquele que será o algoz desse infortunado Silva. E a frase definitiva, tal qual em Domingo no Parque ("Juliana, seu sonho, uma ilusão"): "E o pobre do nosso amigo, que foi no baile curitr, hoje com sua família não irá dormir".

A música retrata com perfeição as tragédias, nem sempre das periferias, nem sempre nos grandes centros urbanos. E é a descrição da cena que presenciei essa madrugada, mas sempre um aviso, a mão do destino repousando perigosamente sobre nossas cabeças.

Descansa em paz, Milton.

As Chicas cantam "Rap do Silva": http://www.youtube.com/watch?v=81hCBlxmN0Q

Um comentário:

blog da Paraguassu disse...

Rodrigo querido, imagino o quanto ficaste abalado com a cena que viste. De fato, ficamos muito chocados quando nos deparamos com tais episódios que são corriqueiros em nossa capital. Porém, existe algo muito profundo que leva as pessoas a agirem desta ou daquela maneira. É quase como se estivessem buscando o destino brutal e fatal. Isso chama-se livre-arbítrio. Deus nos concede, através desse meio, chances para fazermos nossas escolhas e, assim, conduzirmos nossa jornada na Terra.
Grande beijo a todos,
Maria e Tasso.

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