"Soltaram as cobras no jardim. A verdade anunciou-se 
telepaticamente, eco de nosso medo coletivo." 
(Sansdes, via messenger)
Um arrepio, foi como tudo aparentemente começou. Ele olhou rapidamente no lá-fora, anoitecia, e coisas estranhas aconteciam no jardim. Chegou até à cozinha, onde Gisa preparava os legumes para o jantar, abriu a geladeira casualmente como quem procura além dos congelados: de novo ficariam presos em casa na sexta à noite.
Mas nem tudo era prisão na casa: havia as horas sem limite em que ficavam buscando verdades perdidas em álbuns de família.
Havia os molhos apimentados.
Havia o tesouro na biblioteca coberta de livros.
Havia os jogos no computador.
Havia os beijos não dados. 
Tudo era real mas imaginário o suficiente para que ambos existissem, apesar do exterior. A casa era o invólucro, mas também proteção, santuário. Não sairiam dali antes da manhã de sábado.
Mas até o sábado, as horas que demoram para passar. Por mais que se policiasse e por mais que Gisa o prevenisse, lá estava ele espiando pela janela, feito o passado no jardim. As cobras continuavam lá e de lá não sairiam.
Nesses dias, o telefone não tocava. A internet não funcionava. Na tevê, apenas filmes antigos. Nenhuma comunicação com o mundo externo.
Entre o corte dos legumes, a salada de frios preparada, o vinho sendo aberto: olhou nos olhos de Gisa, verdes, um profundo olhar - oblíquo.
Um olhar de cobra.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
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