segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Suspensão do ENEM e Mercedes

A suspensão das provas do ENEM por anunciado vazamento do conteúdo das questões me faz voltar a 1988, quando eu prestava meu primeiro vestibular. Para Direito, na UFRGS.

Na época, o vestibular contava com duas etapas: a primeira, idêntica para todos os candidatos, consistia nas nove provas (geografia, história, portugues, literatura, lingua estrangeira, matemática, química, biologia e física) com vinte questões cada uma, divididas em dois dias - sábado e domingo. Num dia, as cem questões das humanas. No outro, as demais oitenta das exatas.

Para passar na segunda etapa, eram precisos 30 % de acertos em uma e outra. Passei nessa primeira fase, até porque eu considerava uma vergonha não consegui-lo (tá certo que nas exatas foi por pouco, fiz 28 acertos - eram necessários 24).

Bem, a segunda etapa consistia em provas específicas, segundo grupos de conhecimento dos candidatos. Eu, como candidato a uma das 60 vagas do curso de direito (contra 2.400 pretendentes), prestava provas para Português (o que incluía redação), História (que continha perguntas dissertativas), Literatura e Língua Estrangeira (minha opção foi o inglês).

Não tenho os números exatos na minha cabeça, apenas lembro bem que em Literatura "passeei em campo": foram 18 acertos em 20 questões na primeira etapa e 26 das 28 da segunda etapa.

Português também tive desempenho satisfatório e Inglês consegui apenas me defender (se não me engano na segunda etapa foram 15 acertos das 25 questões).

O problema foi História. No dia anterior, foi divulgado na imprensa o gabarito das provas que ocorreram naquele dia. Por algum maldito equívoco, divulgaram o gabarito da prova de História, que ainda iria se realizar. Pânico geral, aglomeração de pessoas nos cursinhos pré-vestibulares! Eu me lembro até hoje do Prof. Kaplan rindo: "os outros cursinhos dão dicas, nós damos o gabarito!".

Resultou que foi aplicada uma prova reserva. Eu, que já estava completamente desestabilizado emocionalmente - seja pelo mediano aproveitamento da primeira etapa, seja pela pressão familiar, seja pelo meu próprio despreparo - foi o que faltava para eu fazer a prova com total desconfiança.

Eu gostava de História e até estudava. Vinha de um segundo grau sem nenhuma informação dessa matéria, pois cursara o abominável "Auxiliar de Laboratório de Análises Químicas" e simplesmente não tive história no segundo grau. O pouco que aprendi foi no cursinho.

Nesse contexto, fiz a prova completamente nervoso, e ainda me lembro de uma pergunta  que li atônito: "Quem foi Enéas?". Para mim fora o centroavante da Portuguesa nos anos 1970, mas essa opção não tinha na prova.

No fim, o nervosismo tomou o espaço do pouco preparo: fiz apenas 11 acertos das totais 25 questões, muito abaixo do meu rendimento (na etapa anterior, das 20 questões de História, eu acertara 14)!

Desabei. Tenho consciência que não foi por isso que não obtive uma das 60 vagas disponíveis para os 2.400 candidatos. Ainda assim, diante de tamanha concorrência, fiquei em 161º lugar. Nunca me questionei se o sucesso em história teria sido suficiente. Aquele vestibular foi dolorido.

Por isso, quando dizem que a suspensão do ENEM é uma boa notícia para os alunos, penso que somente para os cuca-frescas: todos os demais andam nervosos demais com a necessidade imperiosa de obter uma vaga na Universidade, e penso que o psicológico pesa bastante.

Ainda mais quando se tem 17 anos. E não se pode "volver a los 17", como cantara Mercedes Sosa, que nos deixou nesse fim de semana: a voz da América se calou! Obrigado, Mercedes!

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